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O FILHO DE JOSÉ
(Memoriais de Sofia (zocha))
(para JOSÉ)
Nem quero pensá em tempos
dos agoras idos, quando seu Calixto cá vinha,
neste escritório de advocacia,
nesta aldeia no beiral da serra do Mar,
entrevero do morro do Anhangava,
caminhando a pé tantas léguas,
desde o sítio do Cerne,
sob seus mais de
setenta anos de plantados,
com seu netinho Zézinho,
zarolho, magrinho, atacarrado...
- Filho do meu filho José, dizia,
que se foi ontem...tá enterrado
em cova rasa alí no cemitério da Colina,
nem gosto de espiá lá pra cima,
minhas vistas vaza...
o ceu desaparece, tudo fica neblina,
só vejo assombração,
um nevoeiro no lugar
do coração...dizia agoniado!
- Mas, hoje, perciso! -
continuava seu Calixto - perciso
que o Zézinho seja adotado,
quero que fique filho meu, dotora,
de papel passado,no lugar do José ,
meu filho, muito amado.
E segurava o chapéu
de feltro cinza, surrado,
com os olhos varados d'água!
- Como vai dona Hermedina,
perguntava eu.
-Tá boa?! - Sim senhora,
Hermedina tá boa,
respondia tossindo cansado,
só anda com os pé meio inchado,
não pode caminhá longe anssim,não é?...
Tamo indo pro postinho de saúde, agora,
dispois vortamo pra assiná o percisado.
- Bença pra madrinha, meu fio!
E Zezinho empunhando as duas mãos
postas, em riste, em profundo Namastê,
revirava era em mim seus olhos tristes:
- Vai com Deus, seja abençoado!
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