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pintura/Jacek Yerka QUINZE RUA DAS FLORES
(Carroção do Tempo (dos polacos)/Os Roseirais de Zavadwski /...das travessias!
As ferramentas no grande paiol respiravam imigradas. Eram passaportes com cabelos amarelecidos sob esqueletos de páginas ocres, enferrujadas, fotografias esmaecidas, borradas, manchadas de bolores, baús esquartejados, álbuns de vértebras ressequidas...
.Um mar separador de páginas desde o desatar da corda da última âncora, com suas águas e as nebulosas da viagem entre os que puderam vir e aqueles ficaram no cais, na estação, até os últimos abraços, na linha divisória da fronteira, das marcas dos pés nas escadas dos vagões, dos ônibus...
Das trincheiras, dos comboios,do último grito, do lenço molhado caindo na lama, dos passos quebrando o lago, do cheiro do último abraço, espelhando o escuro do céu dos olhos ocultando vértices, do banco cego da solitária cega, da própria sombra espelhando no vidro da janela, do ônibus, da bagagem deposta, com ticket rasgado...
Da partilha sem olhos da paisagem quebrando-se sob o tempo, do convés esfumando-se no horizonte, dos céus rodopiando, das águas caminhantes sob o caiado sepulcro, da cerca de arame eletrificada, do grito estirado para um ouvido surdo...
Do ultimo telefonema, da mão impiedosa soltando da outra no abismo do outro lado da linha , do grito de socorro não ouvido, de uma presença traiçoeira testemunhando a oitiva e depois gozando da poeira, do ardil do delírio, da misericórdia da ajuda e da tocaia sobre a mesa...
Da manhã de amor de café com sal, das montanhas derretendo-se no horizonte sob o ponto de fuga morrente , do punhal sobre o balcão branco, dos avisos de perigo, das setas na estrada da boca, dos cádaveres tombados dos cães pelas estradas, das vestes roubadas, da intensa mentira do olhar do fosso/em falsete estado de gozo...
Dos mapas antigos nos rostos escritos, de fundos olhos que protagonizam rios de peixes inexistentes, da língua que perambula pelas ruas da boca, dos morcegos encravados que desfilam na passarela da noite, travestidos de ninfas, a grande biblioteca abre e fecha os olhos das páginas da morte............................................................................................................................. O giz arranha a pele da lousa, o sangue escorre dos olhos da tarde. As aulas terminavam quase sempre no beiral do crepúsculo, quando a dança das sombras começava a reluzir sob o ventre rosado do púrpura azulando o nú da noite que não tardaria em chegar...
Lá, onde as tintas exaustas exalavam o fôlego cansado do pintor sobre a tela da carne. Havia um burburinho solene na classe, ninguém sabia nada, sobre as declinações, nem traduzir as Catilinárias de Cícero, mas, pareciam tudo saber sobre as Quinze ruas, dizia Zavadwski alto e em bom tom - tudo sabem sobre a bela, formosa e antiga rua das Flores que ganhou esse nome por causa das casas de madeira e seus jardins de cercas vivas, dos burricos ateados aos palanques frente às casas coloniais portuguesas do século XIX...
Ela era a principal rua da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, terra de muito pinhão, rua dos primeiros casarões coloniais, rua dos antigos lampiões a gás de óleo de peixe, da confeitaria da Famílias, da confeitaria Iguaçu, dos olhares sinuosos...
Sim, elas sabem da história das XV ruas (rua XV de Novembro/Rua das Flores), mas, ele também sabe que elas nada sabem de comboios que chegam e partem, mas sabem que o latim foi uma língua falada no Lácio e que também foi língua da escrita oficial no império romano , mas...
Elas também não sabem nem se apercebem que sob os vitrais altos das janelas da sala de aula, sob a luz fugidia do crepúsculo a língua do corvo de Poe desenha caligramas de escarro ...Um risco estridente, sobre a lousa!!! Quebra-se o giz. - - -Cadernos fechados! Desinências na língua em ponta! Prova antecipada! .................................................................................................................. Que rua seria aquela que se vislumbrava além do ponto de fuga sob aqueles olhos fundos que faziam enunciações conforme a intensidade da luz que de dentro vinha?
Zavadwski levantava a voz, como um tenor, em picos fortes, fixando os olhares e curvando as paredes daquela sala....Elas esvoaçavam...pareciam gaivotas sobre o mar, subiam e desciam em vôos rasantes, um bando de moçoilas de olhos ávidos..................................................
... e percorrendo as páginas da antiga Avenida das Flores,dos velhos casarões .... uma delas encravaria com o olhar daquele prédio cinzento, lá no final da rua, onde começava uma praça,...- Ele admostava!Nada sabem de Catilinárias! Mas, tudo sabem sobre as XV ruas./ Há alguém por acaso sentado aqui nesta mesa?!
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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 26/06/2010
Alterado em 29/06/2010
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